QUERIA (*)
Queria ter nos lábios um sorriso de criança
e num vôo de sonho um novo céu alçar
levando o mundo nas asas da esperança
em busca do amor, em busca da paz.
Nos meus braços um sorrir de festas
em rostos faceiros que só pudessem crer
em fantasias, poemas e serestas
e na Terra Nova aonde irão viver!
Paraíso de seres bem amados
sem laços, sem dores e sem pecados,
tão puros como o diamante.
Seres de uma nova era
que não levariam a semente guerra
que só germinaria na Terra Minguante!
Lúcia Constantino
(Direitos autorais reservados)
(*) Poema classificado em quarto lugar em Concurso Nacional promovido pela Litteris Editora - Rio de Janeiro, 1991.
Uma prece de Antoine de Saint-Expéry
"Apeteceu-me morrer. E pedí assim a Deus:
- Dai-me a paz dos estábulos, das coisas arrumadas, das colheitas recolhidas. Deixai-me ser, por me ter acabado de realizar. Estou cansado dos lutos do meu coração. Sou velho demais para recomeçar em todos os meus ramos. Vim perdendo, um por um, os amigos e os inimigos. Vi uma luz brilhar no meu caminho de ócios tristes. Afastei-me, voltei, olhei: fui encontrar os homens à volta de um bezerro de ouro, mais por estupidez do que por verdadeiro interesse. E as crianças que hoje nascem parecem-me mais estranhas do que os rapazitos bárbaros que desconhecem a religião. Levo comigo o peso de tesouros inúteis. Sei músicas que nunca ninguém compreenderá. (...) Aparece-me, Senhor, pois tudo se torna mais difícil quando se perde o gosto de Deus"
in "Cidadela" , p. 173, Ed. Aster, Lisboa.
Meu amigo Caio Vinicius postou em seu blog "Integração Histórica" esse poema maravilhoso. Não resisti e coloco-o aqui. É soberbo.
Poema De Natal
Vinicius de Moraes
Composição: Vinicius de Moraes
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.
Imagem: 3257.Yun (www.yunphoto.net/pt/)