SAUDADE
Deixa-te, saudade,
bater à porta,
sentar na varanda,
fazer amizade,
ver ir tão lenta
a marcha da tarde....
Eu te alimento
de minhas sombras pesadas,
como, um dia, alimentei-me do sol,
de suas horas douradas.
Senta-te comigo, aqui, agora,
sonha comigo
sobre essas minhas sombras cansadas...
Também há algus lumes incertos
nos meus olhos.
Talvez vestígios de estrelas apagadas.
Ajuda-me a reacendê-las
para que eu me ilumine
mesmo no nada...
Saudade, fica comigo nessa sexta hora.
Preciso acreditar
que ainda haverá, lá no fim,
um realejo, um beijo,
ou aquela minha mais bela flor
plantada na aurora.