ELE
"Se te abaixasses, montanha,
poderias descansar.
Mas não te abaixes, que eu quero
lembrar, sofrer, esperar".
Cecília Meireles
Ele vai tocando a vida
com seu cajado,
ora tarde, ora cedo.
E sem nenhum segredo
a nossa face está em sua face
resumida.
Compõe nas nuvens do firmamento
a melodia do pensamento.
Como o vento, vai e vem
e não se sabe de onde vem
nem para onde vai.
E em nossos sonhos,
muitas vezes,
com nossas lágrimas,
dessas alturas,
ele também cai.
Ele vai falando de pomares
maravilhosos
de amores prodigiosos
para o nosso gosto,
para o nosso querer.
É às vezes nos tira tudo
para saber se somos firmes
não no ter, mas no ser.
Anda ao nosso lado,
em desencanto,
em encantamento.
Tem o pó das nossas mãos
em suas mãos.
As digitais de nossos tormentos.
Tem o fio d'água de nosso olhar
escorrendo sobre seu rosto.
Bebe dessa água, sem reclamar.
A que do nosso desespero
tem todo o gosto.
Ergue seus braços
ao nosso sol e manda-nos sua luz.
Um dia é nossa mãe,
no outro, é nosso pai.
E seu filho carregou por nós
a cruz.