Poemas da Caminhada - Lúcia Constantino
O canto da alma é a única coisa que fica. E o que dele fizermos...
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ELE

                          "Se te abaixasses, montanha,
                                 poderias descansar.
                                 Mas não te abaixes, que eu quero
                                 lembrar, sofrer, esperar".

                                                            
Cecília Meireles



Ele vai tocando a vida
com seu cajado,
ora tarde, ora cedo.
E sem nenhum  segredo
a nossa face está em sua face
resumida.

Compõe nas nuvens do firmamento
a melodia do pensamento.
Como o vento, vai e vem
e não se sabe de onde vem
nem para onde vai.

E  em nossos sonhos,
muitas vezes,
com nossas lágrimas, 
dessas alturas,
ele também cai.

Ele vai falando de pomares
maravilhosos
de amores prodigiosos
para o nosso gosto,
para o nosso querer.

É às vezes nos tira tudo
para saber se somos firmes
não no ter, mas no ser.

Anda ao nosso lado,
em desencanto,
em encantamento.
Tem o pó das nossas mãos
em suas mãos.
As digitais de nossos tormentos.

Tem o fio d'água de nosso olhar
escorrendo sobre seu rosto.
Bebe dessa água, sem reclamar.
A que  do nosso desespero
tem todo o gosto.

Ergue seus braços
ao nosso sol e manda-nos sua luz.
Um dia é nossa mãe,
no outro, é nosso pai.
E seu  filho carregou por nós
a cruz.





 

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 24/01/2008
Alterado em 12/01/2009
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