Noturno de Março
A atribulada ampulheta
vai deixando cair a areia.
Não se ouve o suspiro dos grãos,
não se vê o caminho que segue.
Apenas as sombras no coração
sabem dessa praia que pede.
Pede o sol pelas portas e janelas,
pede o testemunho da natureza
para chegar à praia verdadeira
a que só o verdadeiro amor margeia.
Mas há o tempo cinza nos linhos,
a rebelião das águas,
a inconsequência dos caminhos,
a terra deixando de ser sagrada.
E tanto tempo ainda a ser contado,
semeado, colhido,
antes de nos descalçarmos da jornada.
Que um céu nos nossos olhos refletido
ainda possa acender estrelas do nada.
Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 01/03/2016
Alterado em 01/03/2016