A vida cobra a palavra.
A saudade corre atrás de mim feito uma égua louca
e correr me consome. Então escrevo e escrevo.
Sem pausas no coração, pra que ele não pense.
Não pense muito, porque os bichos continuam soltos
dentro de mim e até voam nas carcaças dos ventos.
Por terra e por ar, são os movimentos infantes
que não crescem, não desgrudam, andam na corda bamba
e as palavras se descoram com o tempo,
mas não os sentimentos.
E me veio essa desdenhosa ânsia
de esparrar-me pelos teus céus
mas somente como estrela à beira do abismo.
Ver as tuas rugas e os teus cabelos brancos
foi te fazer vitral ao sol dos meus olhos.
Tua voz soando ainda como um sino de ave-maria
às seis da tarde dos meus sonhos.
(Gozado, engraçada me soa agora como foi um dia
a esperança.... a garganta que se erguia nas luzes
das tardes, nos crepúsculos entorpecidos de
nossas almas)
E essa agonia de domingo, na chuva da alma,
um asilo, nunca um abrigo
me despedaça.... me fere de morte
e vou, te sorrindo,
no tempo que não mais conto
numa fábula,num faz-de conta,
me vou... me vou... para sempre,
e sempre à mesma hora
com esta saudade,
que sempre acorda e me desmonta.