“Quem ainda não leu “Os Miseráveis”, de Victor Hugo? É difícil esquecer uma obra épica que nos deixou fascinados pelo resto da vida, com um cenário tão fotográfico e quase natural, onde desfilam personagens como Jean Valjean, Javert, Colette e outros. Filho de general, constantemente destacado para diferentes capitais da Europa e verdadeiro titã da literatura mundial – eis um esboço do inesquecível Victor Hugo. Uma de suas poesias, “Ode à morte do duquede Berry”, valeu-lhe um prêmio concedido pelo próprio Luiz XVIII, que, à saída do livro, é transformado em pensão. Mas, é a partir de 1822 que sua atividade literária torna-se incessante, quer como poeta, quer como prosador. Desde Rimbaud a André Gide, não há uma única voz a discordar, pois todos manifestam por ele a maior admiração. Mallarmé chegou a declarar a seu respeito: “foi o verso em pessoa”! A euforia que demonstram por Hugo supera a que ele revelou por Scott e Byron.
Em 1827, um enorme público assiste sua primeira peça teatral “Cromwell”, quando, à luz da ribalta, um herói acaba de ser reconhecido por outro herói!... Não hesita em tomar a defesa do drama moderno, com a coexistência do sublime e do grotesco. Mas, a censura não demora a entrar em ação e, por conseguinte, sua segunda peça não pode ser levada ao palco. Apesar disso, Hugo não desiste e, um ano depois, consegue nova consagração, com “Hernani”, onde seu herói romântico é exaltado, fora da lei, em luta tenaz contra a sociedade. Enquanto isto, seus poemas abordam com excepcional virtuosismo o fascínio do Oriente. Com Hugo, o romantismo alcança o zênite de predominância. A revolução de 1830 faz dele o escritor oficial da monarquia constitucional e do liberalismo moderno. Outro sucesso estrondoso é o romance “Notre Dame de Paris”, isto é, Nossa Senhora de Paris, claramente influenciado por seu ídolo Walter Scott e considerado, unanimamente, superior aos romances do grande escritor inglês. O herói da nova obra é a própria cidade luz, sua fantástica catedral, sua população anônima, num imenso painel movimentado e melodramático. A fecunda produção de Victor Hugo prossegue a merecer aplausos do público em toda a Europa. Torna-se longa a relação de peças teatrais, poesias e romances. Sua participação no campo da política também é notável. Em 1848, abraça o ideal republicano e começa a combater Napoleão III. Três anos depois, Hugo é obrigado a optar pelo exílio, que se estenderia por vinte anos e, segundo suas próprias palavras, se tornaria “uma espécie de longa insônia”.
Após o seu retorno triunfal à França, em 5 de setembro de 1870, a criatividade de Hugo torna-se extensa e variada. Ele é lidíssimo, de tendências sociais. Seu prestígio é imenso, pois acaba sendo eleito deputado à Assembléia Nacional e, logo depois, ocupa uma cadeira no Senado. Nesta altura, exerce influência profunda sobre os escritores de todos os países ocidentais. No Brasil, Castro Alves tem o privilégio de ser seu principal seguidor. Conquistando uma glória – nacional e internacional – o ímpeto criativo de Victor Hugo se faz sentir até o último dia de sua existência. Ele é poeta político, grande poeta retórico, poeta épico e romancista. É, portanto, o maior expoente da literatura do seu tempo. Dotado de vertiginosa riqueza verbal, produziu quase uma centena de obras. E, ainda hoje, conquanto sua fama seja bem menor, prossegue a ser considerado como um dos maiores escritores de todos os tempos.”
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(**) por George Schpatoff em “Os Ideais da Justiça”, Ed. Litero-Técnica, Curitiba, p. 148 e 149.
________George Schpatoff foi jornalista, escritor e cientista político. Nasceu na Bulgária, se formou em jornalismo na Turquia e mais tarde se fixou no Brasil, onde dirigiu vários jornais e teve mais de 10 livros publicados. Faleceu em Curitiba onde vivia, no ano de 2003.