**** Um dia, meus amigos, eu me perdí quando peguei o ônibus para o meu trabalho. Estava muito distraída, com o pensamento longe, e passei do ponto. Como trabalho bem fora da cidade, fui parar longe, bem longe mesmo, uns 3 ou 4 Km do lugar onde deveria ter descido. ---- Saltei do ônibus e me vi perto de um Posto de Gasolina, única coisa que havia alí. ---- As pessoas estavam super ocupadas, mal me viram, mal me ouviram, eu perguntava pra um e pra outro aonde era o ponto pra voltar e eles faziam de conta que não me ouviam. Não havia mais ninguém por ali, a não ser aquelas pessoas, ocupadas, que não queriam se incomodar com o fato de eu estar super nervosa, em busca de informações. Era como se eu fosse invisível ------ Então fui caminhando, caminhando no sentido de volta ao local do meu trabalho, pela rodovia federal e não achava ninguém. Era, claro, uma rodovia e fora da cidade, o movimento era mínimo. Somente carros iam e vinham em alta velocidade ---- Aí, meus amigos, eu senti na pele o que deve sentir um cão abandonado. Chorei muito, ali mesmo, apoiada a um barranco. Chorei pela indiferença das pessoas, por não encontrar um rosto amigo que me direcionasse aonde era o ponto de volta pra casa, quando passaria o próximo ônibus --- Naquele momento, lembro-me como se fosse hoje, senti na pele o que é o abandono....a indiferença humana, a solidão de se ter que enfrentar sozinho o seu destino. Jamais esquecerei aquele momento enquanto eu viver e a imedita relação que fiz com o que sente um cão abandonado. O que é muito pior: eu tinha comida a me esperar em algum lugar, uma casa a me esperar em algum lugar, um rosto amigo a me esperar em algum lugar. Um cãozinho não tem essa esperança -- e não sabe que não tem. E o passar dos dias traz-lhe o peso da crueldade humana, a qual ele não pode entender ---São lições que Deus nos dá para que possamos lembrar sempre as palavras do Cristo: "amai o teu próximo como a ti mesmo" -------. O Cristo não disse que era só o  ser humano esse próximo. ---- E esse próximo pode  ser qualquer ser vivo.

(Lúcia Constantino)