Poemas da Caminhada - Lúcia Constantino
O canto da alma é a única coisa que fica. E o que dele fizermos...
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Não há traçado
sobre o silêncio da noite.
Nem a língua dos sábios.
nem o fascínio dos céus.

Carrego a algum lugar
essa rota de evocações.
Montanhista de vales profundos,
escalando, em túnica de flores mortas
até que a carne seja suficientemente
verde, para reflorescê-las no cume da alma.

                  Absurdamente escrevo, e revezo
                  os pés dentro da lei inexorável
                  do destino, para permitir-me chegar
                  sem as ausências que me desliquibraram.

Ao longo do caminho.
as nuvens como alimento.
O olhar, talvez, em monástico tormento,
ascende, ascende devagarinho.
Uma parte de mim leva os sonhos,
flores nômades nos beirais dos abismos.

                 E me farei cedo, para ver o novo dia nascer,
                depois do esvaecer de todas as luas,
                depois dos espasmos de todas as estrelas,

para voar, além do sono do pensamento,
e não precisar mais lutar
contra o próprio olhar

que, misteriosamente,
precisou entrevar
para amanhecer.



(Direitos autorais reservados).
Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 19/11/2011
Alterado em 15/12/2011
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