Testemunho cotidiano
Não procede este tempo de dor.
Deixamos escapar os ramos,
a música, as claras conquistas da alma
- para voar sobre os vazios de máscaras
e contemplar, extasiados,
os portões ilusórios dos castelos alheios.
Asas foscas, as nossas!
Asas perfuradas de medos e abismos,
caindo ao primeiro sorriso dos elogios provisórios
que não deixam rastros.
A saudade da verdade é um espinho cotidiano,
que é presença mais do que qualquer perfume.
E nenhuma haste se levanta sem sol e sem água.
Vida é o que falta,
quando a letra arrebenta-se ao chão
com o vento da mentira.
As vestes da palavra me fazem refém de mim mesma.
O que eu preciso é do sonho sem ser areia,
é da palavra sem ser teia,
pois que um só sorriso verdadeiro
a mim dirigido
me vale todos os versos do mundo.
Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 12/04/2011
Alterado em 13/12/2011