Des-figuração
Coragem para elevar-se em meio à lama. Opressão.
Das pétalas mortas, não se faz uma boa guirlanda.
O que dói por dentro é como cheiro de incenso -
perfuma até os ossos.
Tenho visto chover nos labirintos. E olhos se afogando.
E paisagens nuas, crateras camufladas, o sonho
ao abrigo da luz.
Palavras...palavras...conduzo-me ao pórtico dessas línguas
e nada encontro.
Os espasmos de emoções travam-me a memória.
Mais nada sei. O carrilhão emudece
e a paz dorme em paz.
Que uma outra aurora seja alguém,
que alguém ouça alguém
e que nascer ou apenas re-nascer
seja música e não limbo.
Não se devota piedade para iluminar passos.
As pernas não são patas,
são colunas de um templo.
Enrolo os tapetes, para não cair.
E misteriosamente, sei que um dia
soarei como um violino.
Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 30/10/2010
Alterado em 23/11/2010