Poemas da Caminhada - Lúcia Constantino
O canto da alma é a única coisa que fica. E o que dele fizermos...
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LAR AZUL
É uma nobilíssima noite de verão.
Essa, que vejo descer sobre os pássaros,
sobre a voz rouca dos homens
- de onde soa a ingloriosa medida
das cinzas dos sonhos.
Eu tenho uma aldeia
no centro do coração.
E seus pés de café ainda dançam na minha memória.
Suas noites de lua cheia, de risos coloridos dentro da noite.
Estrelas que regressam nos meus sonhos
- não mais as conto e canto.
É sua agonia que às vezes me acompanha.
A realidade parece uma senda monstruosa
quando despertamos do sonho.
A Ave-Maria em cada entardecer era grandiosa e misteriosa
como uma nuvem sobre a montanha,
meu teto dentro daquele  vale onde os anjos
vinham descansar nos fins de tarde.
Eu me apoiava em seus ombros
para tentar descobrir o que tinham escrito
dentro dos meus olhos e que música tinham composto
na palma de minhas mãos.
Quem sabe um dia, sem conhecer nenhuma nota,
mesmo assim, eu a cantaria e eles a ouviriam
aonde estivessem.
Até hoje,  tudo isso é célula em mim
este lar azul que deixei perder-se
entre as brumas da noite
em que todas as minhas luzes dormiam.


(Direitos autorais reservados)



Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 05/02/2010
Alterado em 28/04/2010
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