Poemas da Caminhada - Lúcia Constantino
O canto da alma é a única coisa que fica. E o que dele fizermos...
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AMOR? Que amor?!


Amor no coração? Que amor no coração? Aquele que fecha os olhos à dor de seu irmão, às suas necessidades, ao diálogo - aquele que só pensa em si mesmo, só pensa em sua obra, em seu espelho? Na sua vidinha medíocre recheada de elogios baratos, de amizades falsas e interesseiras?

Quem tem amor no coração? Aquele que come um pastel na pastelaria e vê um cachorro com as costelas  à mostra ao seu lado  e faz que não vê?

Que fala o tempo todo de si mesmo, elogioando-se, super valorizando-se sem enxergar o brilho de tristeza nos olhos do irmão que está à sua frente? Que não enxerga o outro porque simplesmente só enxerga a si mesmo?

Que sensibilidade barata é esta que permeia artistas, escultores, pintores, cantores que nada sabem dizer a não ser "eu sou isso, eu sou aquilo, eu gosto disso, eu gosto daquilo" - eu...eu...eu... sempre o eu, sempre o eu....eu, o centro do universo, eu sou esteta, eu sou poeta, eu sou artista....

Palavras, palavras, palavras que o vento leva. Palavras, águas que desaguam no nada e não geram vida.

Tenho tristes experiências com a arte, a dita "arte" - aquela que fabrica lunáticos. Aquele que é não precisa de autoafirmação.  Nem proclamá-lo aos quatro cantos do mundo. Se É simplesmente. Se É porque dentro de si mesmo existe a certeza desse SER. Não se precisa de mais nada - e quem tem essa sensiblidade, a tal do artista, devia no mínimo usá-la para enxergar o seu próximo e não se considerar uma ilha cheia de purpurina por todos os lados. A vida não é um carnaval. A vida é ação. Ação de doar-se, de partilhar, de ser igual a todo mundo. Habitantes da terra mãe, única mãe. Do espaço não veio ninguém pra se julgar divino ainda (que eu saiba).



Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 05/03/2009
Alterado em 10/03/2010
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