CANÇÃO DO PENSAMENTO
Em um delta de espinhos, na face nula do tempo,
os espinhos caem sozinhos. Vêm de dentro do pensamento.
Que vento vem a caminho para varrer os tormentos?
Só sei do pó que vai sozinho, como fruta rompida por dentro.
De longe venho cumprir-me entre nuvens e delas sou filha.
Às vezes nas águas me dissolvo e a terra me alivia,
como se sua grande boca, num sorvo de chegadas e partidas
me transformasse nesse momento único, em uma grande ilha.
Não mais por entre as faces do mundo irei rolando feito lágrima.
Sou meu sudário novo que meu novo rosto guarda,
espécime de uma escrita da qual não serei escrava.
E sem nenhum receio, se aos céus ainda me enlaço
é por acreditar que essa luz descida entre os vivos
desnorteia os precipícios, que fogem dos nossos passos.
Foto: imagem pesquisada no Google